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Mulher que recebeu coração de Eloá Pimentel morreu de Covid-19

  Maria Augusta havia recebido o órgão no dia de seu aniversário: "Minha vida é um milagre" Fotos: Arquivo Pessoal O caso do seque...

 Maria Augusta havia recebido o órgão no dia de seu aniversário: "Minha vida é um milagre"

Fotos: Arquivo Pessoal

O caso do sequestro e assassinato da jovem Eloá Pimentel, em 2008, voltou a comover o público esta semana em razão do lançamento do documentário Caso Eloá: Refém ao Vivo, na Netflix. A vítima morreu aos 15 anos, baleada na virilha e na cabeça pelo ex-namorado Lindemberg Alves.

Após o óbito, a família decidiu doar o coração, pulmão, córneas, fígado, rins e pâncreas de Eloá. Uma das receptoras foi a vendedora Maria Augusta da Silva dos Anjos, que recebeu o coração da jovem no dia de seu aniversário, em 20 de outubro de 2008.

Entretanto, 13 anos depois, Maria Augusta acabou se tornando uma das vítimas da Covid-19, morrendo em um hospital particular de Paraupebas, no Pará, em decorrência da doença.

À época, a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, lamentou a notícia e disse que considerava Maria como uma filha.

– Eu não esperava essa notícia. Eu estava torcendo para a Augusta se recuperar. Para mim, foi muito triste. Minha família, meus filhos estão tristes. Até porque amanhã [5 de maio] minha filha Eloá faria 28 anos se estivesse viva. Augusta era como uma filha para mim também, pois ela carregava o coração de Eloá. Augusta ficou maravilhosa depois que recebeu o coração de Eloá, mas essa doença [Covid] a pegou e a matou – lamentou Ana Cristina.

Em 2018, quando havia completado dez anos do transplante, Maria Augusta relatou como havia recebido a notícia de que ganharia um coração.

– Recebi a notícia por telefone. Meu médico ligou: “Vem para o hospital que eu acho que você vai ganhar o coração daquela moça, a Eloá”. Eu soube do caso pela TV. Fiquei internada do dia 8 de outubro até dia 18 de outubro. Por isso agradeço à mãe de Eloá por ter permitido a doação dos órgãos da garota (…) Fui para o hospital e meu médico Antonio Alceu me cumprimentou. Ele perguntou se eu acreditava em milagres. “E falei sim. Minha vida inteira é um milagre” – expressou ela à época.

Relembre o depoimento completo de Maria Augusta a seguir:

Estava em São Paulo. Fiquei dois anos e uns meses na fila de espera por um transplante de coração, morando em São Paulo. Eu só tinha o ventrículo direito do coração funcionando. Tinha também o ventrículo esquerdo, mas ele era pequeno e não tinha função. Não funcionava direito.

Eu tinha problemas cansaço, falta de ar, insuficiência respiratória. Unhas eram todas roxinhas, os lábios roxos, a pele parecia azulada por causa do sangue que não circulava direito. Descobri essa doença com 6 anos. Na época, médicos falavam que não tinha solução. Ainda deram dois diagnósticos. Um falava que era coração grande. Depois o outro falou que era sopro.

Fiquei dois meses internada em Belém quando tinha 6 anos. Fiz muitos exames. Os médicos falavam para minha mãe, para os meus pais, que eu ia viver no máximo até os 7 anos de idade.

Meus pais foram pessoas que me ensinaram a ter muita fé. E eles falaram assim: “tudo bem, os médicos estudaram, mas que Deus dê mais vida a minha filha”. E eu voltei a voltar na Ilha de Marajó e não fiquei mais na capital. Voltei ao Marajó porque não parecia ter mais solução para o meu caso.

Ainda fiquei até meus 20 anos indo para o interior e a capital, tendo acompanhamento médico. Eu tentava fazer as coisas que eu não podia, como nadar, andar de bicicleta, mas eu desmaiava.

Mas falo sempre que a minha vida é um milagre. Aí fui levando a vida assim: estudei o ensino fundamental, terminei o ensino médio. Tudo muito devagar… atrasou muito os meus estudos. E quando estava com 19 anos, comecei a piorar muito, comecei a piorar muito, muito mesmo. Comecei a ficar mais roxa. Não conseguia sair de casa. Fiquei muito, muito mal mesmo.

Foi então que conheci um médico em Belém. Ele tinha feito residência em São Paulo. E falou: “a única solução por enquanto é a cirurgia de Fontan [procedimento paliativo usado em crianças com corações univentriculares], que é nova aqui no Brasil. É a única solução para você. Colocarem uma válvula para substituir o ventrículo esquerdo e fazê-la funcionar no lugar”.

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Essa cirurgia foi feita no Hospital Beneficência Portuguesa em São Paulo pelo SUS [Sistema Único de Saúde]. Minha família me apoiou muito. Fiquei com essa válvula no coração por 13 anos. Tive melhora bem significativa com essa válvula.

Aí em 2005 eu comecei a sentir um leve cansaço quando eu andava, na hora do banho, até para tomar banho. Aí foi aumentando. Fui em São Paulo novamente em 2006 e aí eles diagnosticaram que válvula não estava mais funcionando direito, só que não poderia substituir essa válvula. Teria que ser um transplante.

Fiz exames para entrar na fila dos transplantes no final de 2006 em São Paulo. Já estava na fila, já fiz exames para transplante e tudo. Aí fiquei morando na capital paulista por dois anos e três meses aguardando o órgão.

Surgiram dois corações nesse período. Só que às vezes a pessoa sofre acidente e fica na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), usa muita droga pesada para ver se cura a pessoa. Não deu. E o segundo órgão não foi compatível.

Eu era a sexta da fila de espera por um transplante de coração no Hospital Beneficência Portuguesa. Todo mês eu tinha que ir ao hospital e, às vezes, ficava internada dez dias, um dia, para ver como é que estava a evolução.

No dia 19 de outubro às 22h eu soube que poderia receber um novo coração. Estava em casa. Não saía de casa. Não dava conta mais de andar. Fiquei praticamente quase dois anos e meio dentro de um apartamento em São Paulo. Não conseguia trabalhar.

Recebi a notícia por telefone. Meu médico ligou: “Vem para o hospital que eu acho que você vai ganhar o coração daquela moça, a Eloá”. Eu soube do caso pela TV. Fiquei internada do dia 8 de outubro até dia 18 de outubro.

Quando cheguei ao hospital, meu médico perguntou se eu queria o coração. Disse que sim. Ele falou que o fato de o caso ter saído na mídia seria complicado para mim por causa do assédio.

Fui para o hospital e meu médico Antonio Alceu me cumprimentou. Ele perguntou se eu acreditava em milagres. “E falei sim. Minha vida inteira é um milagre porque todos diagnósticos de pessoas que nascem como meu problema, se não fizerem cirurgia até os 8 meses de vida não sobrevivem”, e eu fui fazer a cirurgia de Fontan aos 21 anos.

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Ele disse: “Estou falando isso porque tinham cinco pessoas na sua frente na UTI e nenhuma delas foi compatível e você ganhou o coração”. E eu sempre pedi a Deus para me dar o coração no dia do meu aniversário.

Entrei no centro cirúrgico às 23h30 do dia 19 de outubro de 2008 e saí, após o transplante, às 8h do dia 20 de outubro, data do meu aniversário… amanheci com o presente novo, com o coração novo.

Todo transplantado toma remédios contra rejeição. Tem de tomar a vida toda. Comigo não é diferente. Quis saber mais sobre a doadora [Eloá], até visitei a mãe dela [Ana Cristina Pimentel da Silva]. Quando eu morava em São Paulo, ela foi visitar meus pais.

A gente está meio distante, mas tem contato até hoje no WhatsApp. É pouco, mas mantém. Eu acredito que ela ficou muito feliz quando se encontrou comigo e de ver o coração da filha dela batendo no meu peito. Ela estava muito alegre de ver que um pedaço da filha dela está aqui em mim.

Muita coisa mudou na minha vida. Primeiro: eu sempre que eu posso eu falo para alguém, até falo para meu esposo, ele não gostava dessa ideia de falar de ser doador.

Eu falo sempre para ele assim: “Você vê o quanto eu sofri. E hoje estou com um órgão de outra pessoa e que me fez voltar a viver. Então para mim essa foi a maior mudança de ver a importância da doação”.

Por isso agradeço a mãe de Eloá por ter permitido a doação dos órgãos da garota. Eu gosto de falar para as pessoas. Sempre gosto de dar força para as pessoas, falar que a gente tem que ter fé de que tudo vai dar certo e a importância da doação de órgãos.

Atualmente sou feliz. Casada com meu marido, Carlos Silva, de 31 anos. Ele é montador de andaimes. Não posso ter filhos, mas tenho uma enteada linda.

Fonte: Pleno News

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