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Sobral é a quinta cidade com maior crescimento de população em situação de rua no Ceará

Numa caminhada ou no trânsito, o cearense vê pessoas em situação de rua como uma cena cada vez mais frequente. Essa percepção, inclusive, es...

Numa caminhada ou no trânsito, o cearense vê pessoas em situação de rua como uma cena cada vez mais frequente. Essa percepção, inclusive, está registrada em dados: a quantidade de gente neste contexto passou de 1.541, em 2015, para 9.217, em 2022. Fortaleza tem a concentração daqueles que não possuem um lugar para viver com 6.334 pessoas.

Reprodução

As informações são do relatório “População em Situação de Rua”, elaborado pelo Governo Federal e publicado neste mês, após o Supremo Tribunal Federal (STF) apontar a defasagem de dados sobre o assunto. Para isso, foram consultadas bases de dados sociais e de saúde, como o Cadastro Único.

Com a análise, foi observado um aumento de 6 vezes no número de pessoas em situação de rua no Estado, que tiveram as informações de perfil detalhadas no relatório. A maioria, no Ceará, é formada por homens (84,3%), de 30 a 49 anos (55,3%) e de cor parda (72,5%).

AS 10 CIDADES COM MAIS PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA NO CEARÁ

Fortaleza: 6.334
Caucaia: 547
Maracanaú: 393
Juazeiro do Norte: 262
Sobral: 190
Pacatuba: 172
Crato: 103
Maranguape: 99
Pacajus: 83
Russas: 58
Mas, afinal, o que leva essas pessoas a “morar” na rua? O levantamento destaca os problemas familiares como o principal motivo, tendo levado 4.574 para fora de casa. Na sequência, aparecem o desemprego (3.912), a perda de moradia (2.851) e o uso de álcool/drogas (2.850).

Messias Douglas Pessoa, mestre em Antropologia Social, contextualiza que a falta de investimentos para redução da pobreza extrema e moradias sociais, por exemplo, explicam o aumento.

“É uma herança da série de ataques às políticas sociais que tivemos nos últimos anos, como da assistência social, e do aumento do desemprego”, frisa.

Além disso, ainda são sentidos os prejuízos sociais e econômicos causados pelo coronavírus. “Chegamos numa situação na pandemia em que as pessoas ou ficavam em casa morrendo de fome ou iam às ruas para se alimentar com a distribuição de alimentos”, completa Messias.

A falta de estrutura no Governo Federal também é um fator apontado por Verônica Ximenes, professora titular do departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo de Psicologia Comunitária (Nucom).

“Também temos o aumento da violência nas cidades, que impactam nos lugares de moradias, o desemprego estrutural que faz com que as pessoas não tenham como pagar o aluguel, além dos problemas familiares e uso de drogas”, analisa.

PERMANÊNCIA NAS RUAS
Durante a atualização dos dados no Cadastro Único, 2.490 entrevistados informaram que estavam nas ruas há menos de 6 meses. No outro extremo, 1.334 estão sem uma moradia há mais de 10 anos.

“Temos gerações e gerações de famílias, pessoas que tiveram filhos que se criaram na rua e hoje tem até netos na rua. Se você conversar com elas, tem 2 elementos principais: emprego e moradia”, destaca Verônica.

Sem acesso a esses dois fatores básicos, a rotina nas ruas pode levar a um ciclo árduo de quebrar. “Quando uma pessoa chega nas ruas é apresentada ao sistema para poder ‘se virar’ e, por vezes, vão para o uso das drogas. Quanto mais tempo cria relação com as ruas, mais difícil fica retomar as relações familiares que tinha antes”, completa Messias.

Essa dependência das ruas prejudica o cotidiano de todos, mas para alguns a situação é ainda mais difícil: 871 pessoas em situação de rua têm deficiência física. Outras 279 foram diagnosticadas com algum transtorno mental e 202 convivem com baixa visão.

Em relação à origem dessas pessoas, 5.016 foram mapeadas vivendo no mesmo município onde nasceram, 4.150 em cidades diferentes e 51 são de outros países. Entre quem não possui moradia, há estrangeiros vindos, principalmente, da Venezuela (18), Argentina (11), Colômbia (6) e Uruguai (5).

Verônica completa que a falta de políticas públicas para essas pessoas nos municípios pequenos faz com que mais gente venha para a Capital. Isso acaba também dando a impressão de que não há população em situação de ruas nesses lugares.

“A Capital tem uma infraestrutura que dá uma qualidade de vida para quem está na rua, mas essa população aumenta e a política local não dá conta”, destaca.

Fonte: Diário do Nordeste



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